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Mãe no limbo

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 Agora que cheguei ao oitavo mês de gestação, muitas memórias da primeira gravidez e do puerpério tem vindo à tona. Não posso negar que a "sombra" do puerpério, por mais que não seja uma completa desconhecida, causa um certo medo do que está por vir, ao mesmo tempo que sinto alivio por saber que, apesar de doloroso e muito cansativo, é apenas uma fase e logo passará. Desde a minha primeira experiência materna, ouvi das mulheres mais experientes que antigamente todas passavam por essa fase sem tão grandes traumas e que hoje nós estamos "frágeis" demais, reclamando demais etc. Ouço sempre que "antigamente não tinha nada disso". E desde então passei a me perguntar por que está tão dificil enfrentar a chegada de um bebê em nossos dias. Lendo e conversando ao longo dos últimos 4 anos sobre a chegada de um filho em uma familia, a diferença entre a vida que se leva hoje e a vida que nossas mães e avós levavam é gritante. Certamente é a razão pela qual elas não entendem o motivo de nossos medos e aflições. A solidão dessa fase assusta mais do que as noites não dormidas, isso porque já não contamos com a tal rede de mulheres que a argentina Laura Gutman, brilhantemente, discursa em seus livros. Adoro quando ela diz: "todas as puérperas precisam dessa rede para não desmoronar diante das feridas físicas e emocionais deixadas pelo parto" (A Maternidade e o encontro com a própria sombra; 2007). Entretanto, dificil contar com essa rede de mulheres em nossos dias. Minha avó, por exemplo, sempre falava do quanto teve amigas e vizinhas maravilhosas que se ajudavam na época em que os filhos eram pequenos. Quase que um entra e sai da casa, sem qualquer cerimônia. Essa cena é quase impossível de se ver hoje em dia. As pessoas se tornaram mais individualistas, a grande maioria das mulheres trabalha fora, mal tendo tempo para os seus afazeres domésticos, quanto mais para apoiar uma puérpera. Minha mãe já não teve essa realidade que minha avó descrevia. Porém, 1 ano após eu nascer, minha avó passou a morar conosco e permaneceu até seus últimos dias em 2008. Quando chegou a minha vez, nenhuma das duas realidades vivenciadas por minhas antecedentes me foi possível, já que nem tinha vizinhas e amigas disponíveis a me sustentar emocionalmente por um período tão longo e nem minha mãe podia estar comigo, pois trabalha fora de casa e tem uma vida atribulada, fazendo parte da nova realidade de avós "modernas". Ou seja, a maioria de nós hoje, fica no limbo por "eternos" 40 dias. Ou, para amenizar essa solidão que tanto machuca, contratamos (quando possível) pessoas que possam de alguma forma trazer um acalento para esses dias. Quando leio relatos de mães que optam ou são obrigadas a passar por essa fase em completa solidão, fico pensando que impossível não é, mas, a que preço? Sou muito a favor da necessidade de apoio. Não é frescura, é vital para a saúde emocional da mulher. E já que a vida moderna nos engole avassaladoramente todos os dias, usemos-na em nosso favor! Se não se faz possível a presença física dessa rede de mulheres antes tão comum, apoiemo-nos nas redes sociais, nos grupos de mães do whatsapp, nos blogs maternos etc. Porque uma simples conversa ou desabafo pode transformar o dia daquela mãe que está há muitas noites sem dormir, sem comer direito, sem qualquer tempo para si. A troca de experiência ou aquela palavra amiga de que "vai ficar tudo bem, eu também já me senti assim" é um abraço reconfortante que aquece o coração da puérpera, podendo afastar, inclusive, as possibilidades de uma depressão pós-parto.


4 comentários:

  1. Myriam, eu até comecei a escrever um post sobre isso! Depois de ter um filho ficamos emocionalmente e também fisicamente frágeis. Essa rede é muito importante pra esse período, mas o que existe é um tal de visitas fora da hora e as visitas não ajudam em nada. Faço parte do coro: nãe traga uma roupinha linda pro meu filho, me traga comida e ajuda! A rede on line até ajuda sim, mas nada como uma pessoa fisicamente presente pra te dar um abraço e uma mão no que for preciso.
    Espero que o seu segundo seja melhor!
    Beijos,
    Rita

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    1. Sem dúvida, Rita! Dia desses, uma super amiga teve bebê fui visitar. Levei frutas e dei colo pra bebê pra que a mãe descansasse...pena que nem todas entendem que o melhor presente é ajuda...mas como sabemos que em nossos dias isso é raro de acontecer, quis ressaltar a importância dessa troca de experiências e informações que me valeram muito quando eu estava nessa fase "nebulosa" e era bacana saber que eu não estava só neste limbo e foi maravilhoso descobrir os blogs que me incentivaram a escrever e me redescobrir como pessoa.
      Escreva seu post! Quero ler!! Bjks!!

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  2. Também já ouvi conversas sobre as mães de hoje em dia estarem mais "melindrosas", mas cada mulher sente suas emoções à sua própria maneira, tem suas fragilidades e fortalezas.
    Quando Milena nasceu, não senti tanto nessa fase, pois minha vida, mesmo com todas as preocupações com a prematuridade dela, ficou movimentada (visitas à UTI, conclusão da organização da casa para recebê-la, etc..), e ainda, me "mudei" temporariamente pra casa de meus pais para ter mais ajuda e companhia (o que me ajudou bastante).
    Só depois de um certo tempo, quando as coisas estavam "bem", senti falta dessa rede de apoio, de pessoas por perto, de contato social...mas parecia que todos estavam tão envolvidos em seus afazeres...já até me questionei se foi por isso que criei meu blog :) rsrs
    Bom, mas que vivencies essa nova fase com tranquilidade. Dessa vez, será diferente, pois já tens o Dan e, por mais que tenhas que dar atenção a ele tbm, estarás mais forte e experiente e conseguirá conciliar as coisas. Com o tempo, tudo vai se encaixando e encontrando um equilíbrio!
    Bjos,
    Larissa Andrade.

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    1. Então...estar sob os cuidados dos pais ameniza muito essa solidão que descrevi acima, né, Larissa?! Porque por mais que o cansaço seja gigantesco, ter apoio emocional faz toda a diferença. E sim, acho que muitas de nós começou a escrever para se sentirem menos sós e mais próximas de realidades parecidas, pois como sabemos, por um longo período, a única conversa que nos interessa é sobre bebês e as vezes as pessoas com quem convivemos não se interessam, ou não estão dispostas a ouvir pela milésima vez o mesmo assunto. Na época do Dan não havia o whatsapp, mas agora tenho grupos maternos ótimos e acho super bacana compartilhar as dúvidas e experiências, tanto que estou menos aflita em relação a esse período que irei novamente experimentar!
      Bjão pra vc!!

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