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O adeus à educação infantil

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 Esse ano, Daniel e eu estamos dando adeus à educação infantil. Digo Daniel e eu porque em toda sua trajetória escolar, eu revivi a minha própria experiência na escola. Voltei no tempo desde o primeiro dia em que meu filho, aos 17 meses, fez sua estreia como estudante. Ainda consigo sentir a insegurança de deixá-lo em seu primeiro dia de aula. Ao me afastar e vê-lo aos prantos, experimentei a dor da separação pela segunda vez, só que agora no lugar de mãe e não mais de filha. Foram meses de adaptação. Hoje, tenho certeza de que mais do que ele, eu é quem precisava me adaptar. Dois anos depois de seu debut, Dan mudou de escolinha. Para que essa mudança fosse menos traumática, saí em busca de um lugar que me acolhesse, que fosse extensão de casa, que tivesse muitas cores, bastante espaço e que o brincar fosse respeitado mais do que o conteúdo. Eu busquei uma escola sem pressa, que permitisse meu filho viver a infância com leveza: experimentando, errando, caindo, sujando-se, fazendo os primeiros amigos quem sabe de uma vida inteira. Quando eu encontrei esse lugar - na verdade, foi o coração quem disse sim - tratei de levar meu filho para conhecer a escola onde ele passaria os próximos anos de sua primeira infância. Nós curtimos cada ano intensamente: as festas memoráveis de dia das mães e dos pais, as danças das festas juninas, as feiras de ciências, as reuniões de pais e mestres, os passeios escolares, a emoção de ter chegado na idade de começar a praticar esportes, a amizade com as famílias dos amiguinhos, as festas de aniversário, e, finalmente, o inicio da alfabetização. Esta, por sinal, foi um difícil começo. Eu, sem humildade, achei que meu filho seria um "mini me", que aprendeu a ler antes de todo mundo e acabou pulando a alfabetização. Porém, inversamente proporcional ao que eu esperava, para o meu filho, nada do que eu explicava fazia sentido. Dan era o meu avesso. Ele e as letras não se entendiam, o que para mim foi um choque, provocando-me primeiro a ira, depois a tristeza, o orgulho e o descaso. Foi necessário um hiato para que eu conseguisse me reajustar e transformasse esses sentimentos em humildade e resignação de que cada um tem seu próprio tempo e que eu não posso controlar tudo. Mais uma vez, foi meu filho quem me ensinou algo e não o contrário, como se costuma supor. Abri espaço para uma terceira pessoa ajudar - de forma lúdica - meu filho a compreender o dançar das letras, e, aos poucos, ele foi captando a lógica da coisa.
A festa do ABC está próxima, mas mais do que o alfabetizar, para mim, a festa é uma grande despedida de etapa. Dan está deixando o jardim de infância para entrar no ensino fundamental. Escola maior, mais responsabilidades, mais tarefas, mais desafios, menos brincadeiras...a farda amarela que o deixava com carinha de pintinho amarelinho é encostada para dar lugar a cores menos vibrantes. Escrevendo assim parece triste, não? Mas sou de rituais e acho importante essas mudanças para que o inconsciente diga à consciência que é hora de crescer mais um pouquinho. São manobras para o cérebro e o coração se adaptarem ao novo. A primeira bolha foi estourada e aquele corpinho que antes andava colado ao meu, anda agora mais distante, mais seguro e mais envergonhado de me dar um beijo de despedida na porta da escola, tão diferente daquele conturbado início em que meu colo era o único lugar no mundo em que ele se sentia seguro. Bom sinal! Parece que muito colo o deixou seguro o suficiente para agora andar com as próprias pernas, manter-se um tanto distante e saber que não importa o tamanho ou a idade, colo e abraço de mãe é para o resto da vida dele e da minha...
 Esses dias que antecedem o adeus tem sido de emoção grande! Por isso, deixo aqui um poema de Olavo Bilac que com maestria traduz todos esses sentimentos que ando experimentando ultimamente:

Infância
O berço em que, adormecido,
Repousa um recém-nascido,
Sob o cortinado e o véu,
Parece que representa,
Para a mamãe que o acalenta,
Um pedacinho do céu.
Que júbilo, quando, um dia,
A criança principia,
Aos tombos, a engatinhar...
Quando, agarrada às cadeiras,
Agita-se horas inteiras
Não sabendo caminhar!
Depois, a andar já começa,
E pelos móveis tropeça,
Quer correr, vacila, cai...
Depois, a boca entreabrindo,
Vai pouco a pouco sorrindo,
Dizendo: mamãe... papai...
Vai crescendo. Forte e bela,
Corre a casa, tagarela,
Tudo escuta, tudo vê...
Fica esperta e inteligente...
E dão-lhe, então, de presente
Uma carta de A.B.C...


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